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Discursos proferidos pelo Paraninfo da Turma de Agosto de 1995, Conselheiro Gerson Pires por ocasião da cerimônia de formatura das turmas "Florestan Fernandes" do Instituto Rio Branco
30 de abril de 1996
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Excelentíssimo Senhor Vice-Presidente da República,
Excelentíssimos Senhores chefes de missões diplomáticas em Brasília,
Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado das Relações Exteriores e seus antecessores aqui presentes,
Excelentíssimo Senhor Secretário-Geral das Relações Exteriores e seus antecessores aqui presentes,
Excelentíssimo Senhor Diretor do Instituto Rio Branco e seus antecessores aqui presentes,
Senhoras e Senhores,
Meus Colegas,
Meus alunos,
Agradeço-lhes a homenagem que me prestam segundo uma antiga tradição escolar. Que o saudável dinamismo dos tempos modernos não nos faça esquecer inteiramente que a instituição acadêmica do paraninfo nasceu com as primeiras universidades medievais. Em sua origem européia, ao paraninfo cabia um tríplice dever diante dos discípulos, seus afilhados. Era sua missão felicitá-los, acompanhá-los e protegê-los.
A primeira dessas incumbências é para mim, aqui, uma tarefa muito fácil e muito agradável. No tempo em que lecionei no Instituto Rio Branco, de todas as minhas turmas excelentes, a de vocês foi, sem dúvida, a excelente das excelentes. Se durante a minha experiência como professor universitário, eu tenho tido a felicidade de conhecer em cada classe um punhado de alunos capazes e diligentes, foi no Instituto Rio Branco que encontrei não apenas um punhado, mas toda uma turma considerável de escol. Devemos admitir, como um fato, que a diplomacia continua a atrair a inteligência em nosso país.
A missão de felicitá-los, portanto, não requer esforço. Ela é tão simples quanto os gestos mais espontâneos e as palavras mais sinceras. Já as duas outras missões clássicas, a de acompanhá-los e a de protegê-los, se elas não escapam à minha vontade, elas parecem, com realismo, ultrapassar as minhas limitadas possibilidades. Assim, para que eu não contrarie completamente o meu desejo, nem me esquive da responsabilidade ditada pela tradição, que pretendo resguardar, eu lhes peço que me deixem recorrer à ajuda da minha mais constante companheira, a minha disciplina.
A filosofia saberá acompanhá-los. A filosofia poderá protegê-los. Vocês já me deram prova suficiente de afinidade com ela; ela não os abandonará. Não que o exercício da diplomacia requeira aprendizagem filosófica, não. A diplomacia é prática e a filosofia, teórica. A diplomacia é prática do particular e a filosofia, ciência do universal. Mas é verdade que a diplomacia não se exerce por nenhum mecanismo puro. E é de se esperar que ela continue sendo atividade essencialmente humana, sujeita à condição humana, e pertence à nossa condição não se restringir a nenhuma particularidade, nem mesmo à particularidade de uma nobre profissão.
Qual de nós, hoje, em qualquer lugar, se sentirá seguro no seu ofício público desconhecendo substantivamente o alcance do pensamento expresso na universalidade de certos direitos fundamentais? Qual defesa -- justa e necessária -- de interesses nacionais poderá resistir sem termo à idéia de "uma só humanidade", ainda que os interesses sejam sempre tão concretos, e as idéias, sempre abstratas?
Meus caros alunos.
Foi com pena que eu encerrei o nosso curso, mas é com prazer que eu preservarei a cortesia que me dedicam no sítio da memória destinado exclusivamente aos raros instantes felizes. De mim, porém, vocês serão -- inevitavelmente, involuntariamente -- ex-alunos, mas não da filosofia. Ela será a melhor paraninfa. Somente ela, em sua permanente busca de sentido e de liberdade, será capaz de verdadeiramente abrigá-los e inspirá-los ao longo da vida e da carreira
Muito obrigado.
Fonte: http://www2.mre.gov.br/irbr/IRBR/EC/discPar.htm
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