Últimas Notícias do Mundo Acadêmico:

Serra improvisa escola em cima de mercado

21/03/2006 

FÁBIO TAKAHASHI
LUÍSA BRITO
da Folha de S.Paulo

Desde fevereiro, 540 alunos da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Jardim Vila Nova (zona leste de SP), deixaram de estudar em uma escola de latinha. O improviso, porém, continua: o novo local --dez salas comerciais no andar de cima de um supermercado-- é abafado, não tem refeitório nem área de lazer.

A escola, improvisada pela gestão José Serra (PSDB), abriga estudantes de 5ª a 8ª série. Sua entrada é um pequeno portão na lateral direita do supermercado. Um corredor estreito e com material de construção na lateral é o caminho até a escadaria que leva às salas de aula. "Aqui é muito quente. As janelas são pequenas e tem um forno embaixo, na padaria do supermercado", disse Fernanda (nome fictício), 14, da 8ª série.

As aulas no período da tarde, em vez dos tradicionais 45 minutos, têm apenas 30. "Disseram que não agüentaríamos o calor, por isso diminuíram o tempo de aula. Ficou muito pouco", completou.

Como não há espaço para o intervalo, também foram eliminados os 15 minutos de recreio --o lanche é tomado nas próprias classes. No total, os 210 alunos do vespertino têm cerca de uma hora a menos de atividades. As aulas dos demais estão normais, mas sem os 15 minutos de intervalo.

Os alunos reclamam ainda da falta de saída de emergência. "É perigoso. Vai que acontece alguma coisa", afirmou Flávia, 13, também da oitava série. Outro problema são os banheiros: há apenas um masculino e um feminino para os estudantes.

Os alunos deverão ficar nas salas adaptadas até setembro, quando está prevista a entrega do CEU (Centro Educacional Unificado) Azul da Cor do Mar. A escola de latinha foi demolida para a obra.

"Foi o único local disponível na região. Se não viéssemos para cá, não daria para fazer o CEU, que é uma demanda de toda a comunidade", disse Elizabete dos Santos Manastarla, coordenadora de educação de Itaquera. Ela nega, porém, que o local seja improvisado. "Tudo foi pintado, mexemos no piso e as salas têm cerca de 30 alunos. Não vamos superlotar, porque aqui não é efetivamente uma escola."

Sobre o calor, ela disse que um segundo ventilador será instalado em cada uma das salas ainda hoje.

"O maior problema está nos corredores. Quando solicitamos mais ventiladores, aproveitamos para pedir nas salas também", afirmou o diretor da escola, Francisco Calado.

Desestímulo

Especialistas da área de educação afirmam que as condições da Emef Jardim Vila Nova prejudicam os estudantes por eles estarem em um ambiente desconfortável, além de contarem com menos tempo de atividades.

De acordo com a professora da Faculdade de Educação da PUC-SP Neide Noffs, as condições do prédio podem causar desestímulo aos alunos. "É preciso minimizar as dificuldades para que os estudantes fiquem mais atentos ao conteúdo."

Professor da Faculdade de Educação da USP, Romualdo Portela de Oliveira diz que a falta de lazer no intervalo é prejudicial aos alunos. "Recreio é uma parada na qual o aluno descansa para ter condições de acompanhar todo o período de aula", afirma. "Há coisas que a gente ouve e leva susto. O governo faz propaganda que está acabando com as escolas de lata e aí põe as crianças em cima de um supermercado", diz.

Para Claudio Fonseca, presidente do Sinpeem (sindicato dos profissionais em educação no ensino municipal) e ex-vereador pelo PC do B, a situação da escola é reflexo da falta de planejamento dos governos (atual e anteriores) com a educação.

"Isso é fingir que se está dando aula", declara Ismael Nery Palhares Júnior, presidente da Aprofem (sindicato dos professores e funcionários municipais).

Outro lado

O secretário da Educação da prefeitura, José Aristodemo Pinotti, não comentou ontem a situação dos alunos na escola. A coordenadoria de educação de Itaquera, designada pela secretaria para comentar o problema, afirmou que as condições mínimas para o funcionamento da Emef estão atendidas.

Mesmo sendo de alvenaria, cada classe tem um ventilador. "A escola de latinha era muito pior", disse a coordenadora Elizabete dos Santos Manastarla.

Apesar de declarar que isso seja suficiente, Manastarla afirmou que hoje cada classe ganhará mais uma peça. "Não é porque você [a reportagem] está aqui. Tínhamos pedido isso no último dia 3. A compra já está empenhada", disse --a nota com o empenho (último passo burocrático antes da compra) tinha data de ontem.

Com relação à redução do tempo das aulas, o diretor da escola, Francisco Calado, disse que tomou tal decisão para que os alunos não andassem "no sol a pino". No período da tarde, os alunos costumavam entrar às 13h e passaram a entrar às 14h. "Além disso, como o trajeto da outra escola [de latinha] até aqui é longo, de cerca de 1,2 km, quis dar um tempo para as crianças se adaptarem", disse. "Pensei neles. Não sabia que havia reclamações."

Ele afirmou que o tempo de duração da aula volta ao normal amanhã e que haverá reposição do tempo perdido no período --as aulas começaram no local na metade de fevereiro.

Sobre o forno da padaria, o diretor disse que ele é elétrico e não causa calor excessivo nas salas. "Só fica um cheiro de pão. Talvez isso confunda."
Sobre a falta de área de lazer, a coordenadora disse que a escola poderá usar mais os equipamentos ao seu redor --tanto escolas como CEUs e o Sesc.

A coordenadora disse que a Emef tem saída de emergência, mas que não foi mostrada aos alunos para eles não brincarem no local. "Os professores sabem." Há previsão também de reforma de banheiros no local.

Voltar


 
replica watches ukrolex replica salefake watchesrolex replica ukfake rolex salereplica watches
Pagina ptrotegida contra cópia por Copyscape