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Alckmin deixará 76 escolas de latão em SP

30/03/2006 

DANIELA TÓFOLI
da Folha de S.Paulo

Christian da Silva, 12, mal consegue ouvir o que seus professores falam. Ariele Ribeiro, 9, até que escuta, mas não consegue se concentrar por mais de 15 minutos na aula tamanho é o calor. Os dois freqüentam escolas estaduais de latão na zona sul de São Paulo e sonham com colégios de verdade. Em todo o Estado, há 76 unidades feitas de material metálico.

A previsão mais otimista é que em apenas três anos todas terão sido substituídas (se a nova secretária de Educação, Maria Lúcia Marcondes Carvalho Vasconcelos, aprovar o cronograma de obras), mas há diretoras que só esperam a desativação em 2010.

Entre 98 e 2002, as gestões de Mário Covas e Geraldo Alckmin (PSDB) construíram 150 colégios provisórios de latão. São prédios feitos de chapas metálicas, que abrigam no mínimo 800 alunos e que esquentam muito no verão e são frios demais no inverno.

Alckmin, que vai deixar o cargo para disputar a sucessão presidencial, parou de fabricá-las em 2002, mas desativou apenas 74 delas em seu governo. A substituição de cada prédio custa cerca de R$ 1,5 milhão.

As escolas de latão foram construídas para substituir as escolas de latinha, feitas entre 1978 e 1996 para suprir rapidamente a demanda, principalmente nas áreas de mananciais. A diferença entre elas é que as de latão possuem uma estrutura mais resistente e têm pé-direito mais alto que as de latinha, aumentando a circulação do ar. Ambas, no entanto, apresentam problemas térmicos.

Estudos

Enquanto a desativação total das escolas de latão não ocorre, na tentativa de diminuir o desconforto dos alunos e melhorar a aprendizagem, o governo contratou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para fazer uma série de estudos sobre a construção de escolas e pediu que fosse efetuada a medição térmica dentro das unidades de latão.

O relatório final será entregue nos próximos dias, mas os técnicos da secretaria, em conversas com o instituto, já resolveram adotar algumas medidas para melhorar a condição das escolas.

"Mudaremos o isolante térmico dos telhados para reduzir o calor e devemos implantar a ventilação cruzada [sistema que prevê janelas no lado externo do colégio em uma das paredes da sala de aula e, na parede oposta, pequenas janelas perto do teto abertas para o corredor interno]", afirma Jaderson Spina, diretor de obras da Fundação para o Desenvolvimento da Educação --órgão da secretaria.

A ventilação cruzada, no entanto, só dá certo em cidades que não são muito quentes. "Onde faz muito calor, precisamos também de ventiladores industriais, por exemplo, para ter resultado", diz Spina. "De qualquer forma, essas medidas não vão atrapalhar o andamento das aulas e melhorarão as condições térmicas."

Estudante da sexta série da Escola Estadual Jardim Moraes Prado 2º, que tem 1.600 alunos, Christian quer apenas conseguir entender o que os professores dizem. "A voz fica tão abafada que quem senta atrás não ouve nada", conta. Sua escola foi inaugurada em 2002, segundo a placa prateada que fica na entrada do prédio.

Placa semelhante está na Jardim Varginha 3º, com data de 2001. Lá, segundo os estudantes, o calor é maior porque alguns ventiladores estão quebrados e outros foram roubados. "Aqui roubam tudo, até filtro de água", conta a mãe de Ariele, Francisca Ribeiro, 34. "Queria colocar minha filha em outra escola, mas não tem vaga. Ela reclama todo dia do calor e, quando chove, do barulho."

A Jardim Varginha está toda pichada, é abafada e tem espaços mal iluminados. Segundo a direção, não há ventiladores quebrados nem roubados. Mas Antônia dos Santos, 39, mãe de dois alunos do colégio, confirma a falta de ventilação. "Tem criança que chega a passar mal na aula. Não vejo diferença entre escola de latinha e de latão. As duas são um horror."

Outro lado

A Secretaria Estadual da Educação diz que a dificuldade para substituir as 76 escolas de latão pelas de alvenaria é achar terrenos fora das áreas de mananciais.

Grande parte das unidades fica nestas regiões (como as do extremo da zona sul da capital) ou em zonas aeroportuárias (no caso as de Guarulhos), onde a construção de alvenaria é proibida, mas a de latão não é. Assim, encontrar um local para o novo colégio, que fique perto da comunidade escolar e esteja dentro da lei, tornou-se um entrave.

As 76 escolas estão espalhadas pela Grande São Paulo e pelo interior, mas a maioria se encontra na capital. São 40 na cidade, 19 na região metropolitana e 17 no interior. Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, nem todas as unidades são integralmente feitas de latão. Várias, informa, têm apenas algumas salas ou laboratórios no padrão Nakamura --nome tirado do fabricante das estruturas metálicas, sendo o restante de alvenaria. Isso ocorre porque algumas foram construídas fora de regiões de manancial e acabaram sendo ampliadas com as salas de latão.

Para a secretaria, as escolas não são de latão, mas de padrão Nakamura. Elas se parecem mais com as de alvenaria do que com as de latinha, explicam, porque as condições térmicas são melhores.

Durante a construção dos colégios, os técnicos da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) --órgão da secretaria responsável pelas obras-- implantaram mudanças para tentar melhorar o conforto. Os tetos, por exemplo, passaram a ser feitos com material de isolamento termoacústico. A estrutura metálica das paredes mudou do tipo simples para o patinado, um pouco mais reforçado que o anterior.

As vantagens de se fazer as escolas de latão, além da possibilidade de construção em qualquer tipo de terreno, eram duas: todo o material poderia ser reaproveitado quando substituídas por escolas de tijolo e o tempo de construção das unidades era de apenas três meses. O governo deixou de fazer esse tipo de escola em 2002. Um colégio de alvenaria pode levar até um ano para ficar pronto.

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