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Mães conciliam filhos com apostilas

05/09/2006 

SIMONE HARNIK
da Folha de S.Paulo

Um dia antes de prestar a Fuvest, Naira Lie Alves da Silva, 19, descobriu que não realizaria a prova sozinha. Com ela, um bebê com quase dois meses de gestação passaria as cinco horas e os cem testes sob o mesmo nervosismo.

"Sei que a notícia da gravidez atrapalhou, pois eu estava num momento difícil, com medo de contar para os meus pais, não querendo ser mãe."

Apesar do bom desempenho na prova --ela acertou 71 das cem questões--, o resultado foi a eliminação para a segunda fase. É que o curso de medicina, com o qual Naira sonha, é o mais difícil e exigiu acerto mínimo de 73% das questões no ano passado.

Na casa do namorado e com um barrigão, Naira estuda e faz repouso. "Depois do nascimento do meu filho, em junho, eu volto para o cursinho para fazer o intensivo de agosto. Meus pais não deixaram de me apoiar e não querem que eu pare os estudos", diz.

Para o coordenador do Cursinho da Poli, Rubens Faria, o apoio dos familiares próximos é determinante para a continuidade dos estudos. "O futuro depende de quem fica ao lado dessa jovem."

O coordenador do Anglo Alberto Francisco Nascimento tem a mesma opinião: "Na hora que a jovem vai para a aula, alguém vai ter de cuidar da criança. A família é fundamental. A garota precisa ter equilíbrio emocional", diz.

No ano passado, Ariana Gonzaga, 19, passou pelo mesmo que Naira. Seu filho nasceu em junho e hoje ela se empenha para conseguir uma vaga em fisioterapia. Com dez meses, o bebê Pedro é praticamente um relógio para seus estudos. "Só consigo pegar as apostilas quando ele dorme, umas duas horas por dia", conta. "Por isso tento prestar o máximo de atenção às aulas e vou ao cursinho nos fins de semana também." Quando está em aulas, o pai do bebê e a sogra cuidam de Pedro.

Antes de engravidar, a jovem era atleta federada da seleção de futsal de Florianópolis. Mas o "acidente de percurso" fez com que deixasse a terra natal, o esporte e a possibilidade da faculdade de educação física. Agora o desejo é conseguir uma vaga em fisioterapia e não se distanciar muito da área das atividades físicas.

Motivação

A pesquisadora e psicóloga Nancy Rammaciotti de Oliveira aponta que, apesar das dificuldades e da diminuição de tempo sofridas pelas jovens mães, o bebê pode ser, sim, um elemento impulsionador. "Ter um filho pode significar uma oportunidade de crescimento mental. Muitas moças produzem muito bem depois da gravidez", afirma.

Esse é o caso de Jéssica Amaral Pereira, 15, que cursa o segundo ano do ensino médio e mora em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Grávida de sete meses, ela se mudou da cidade de Santo Ângelo, no mesmo Estado, para casar com o então namorado e pai do bebê.

A garota não nega as dificuldades que vem enfrentando: mal-estar, discussões com a família, discriminação por diretores na escola. Mas aponta que o bebê trouxe muita motivação. "Depois que engravidei, fiquei com vontade de cursar medicina. Não sou eu quem está comprando as roupas nem o berço do bebê, porque não tenho dinheiro. Só o estudo vai me dar condições."

Direitos

"Quando a família pode ajudar, um bebê não chega a ser um grande problema", afirma o coordenador do Etapa, Carlos Eduardo Bindi. O problema é quando a jovem não tem esse amparo.

Por isso, segundo a psicóloga Nancy, o desempenho profissional dessas jovens depende também da atenção que recebem do Estado. Ela enfatiza a necessidade de políticas públicas, como vagas em creches, para que elas possam investir na carreira.

De acordo com Wilson Pirotta, juiz do trabalho e autor de artigos sobre os direitos da criança e do adolescente, não existem leis específicas sobre a permanência das jovens mães nas instituições de ensino.

"Infelizmente, existe um grande abandono escolar por parte das meninas grávidas", diz. "Mas a Constituição federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente podem ser invocados para a garantia dos direitos dessas mães."

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